Cinco sinais de que sua empresa pratica preconceito de idade

Às vezes até mesmo sem perceber, muitas empresas seguem alimentando o preconceito de idade no mercado de trabalho. Saiba se a sua empresa é etarista

Por Stefan Ligocki, CEO e sócio-fundador da Mais 40+

Afinal, o que é uma empresa etarista?

À primeira vista, é difícil responder essa questão pois o preconceito de idade ainda é um grande “tabu” no mercado de trabalho e todas as empresas juram “de pé junto” que estão praticando todas as políticas de “Diversidade & Inclusão” possíveis – até mesmo a Inclusão Etária. Só que não.

Às vezes até mesmo sem perceber, muitas empresas seguem alimentando o etarismo por conta de crenças culturais envolvendo o tema idade. E é possível identificar o preconceito de idade observando alguns sinais que essas empresas emitem para o mercado com frequência. Será que a sua empresa é etarista?

Para tirar qualquer dúvida, confira abaixo cinco sinais de que sua empresa está praticando o preconceito de idade.

1 – A cultura da sua empresa é “jovem-cêntrica”

As últimas duas décadas foram caracterizadas pelo impressionante avanço da Era Digital – hoje, internet e redes sociais fazem parte do nosso cotidiano e podemos fazer praticamente tudo no ambiente digital.

Nesse contexto de inovações frequentes, se estabeleceu fortemente no mercado de trabalho uma falsa ideia de que apenas os jovens das gerações Y (os “millenials”) e Z seriam capazes de “dominar as novas tecnologias” e gerar resultados para as empresas. Em contrapartida, ganhou espaço nas empresas uma cultura equivocada de que profissionais com mais de 40 anos não são “criativos”, “inovadores”, “ágeis”, “flexíveis” ou “atualizados”.

O reflexo direto dessa cultura foi a rápida e crescente “juniorização” das empresas nos últimos 20 anos, por meio da demissão gradual e ininterrupta de profissionais 40+, 50+ e 60+, que estão cada vez mais apartados do mercado.

Ao mesmo tempo, aumentou de forma assustadora a contratação de jovens e a promoção de profissionais às vezes com menos de 30 anos para importantes posições de gestão nas empresas – muitos deles recém-formados, despreparados ou com pouca experiência de mercado (e de vida) para ocuparem funções de liderança de equipes, projetos e processos. Por que eles são escalados para esses cargos? Simplesmente porque são jovens.

 2 – Sua empresa estabelece limite de idade para contratações

 Outro sinal perigoso de que a sua empresa está praticando o etarismo é criar processos seletivos ou programas de trainee com limite de idade para contratação de profissionais – um limite que, via de regra, tem como “ponto de corte” a idade de 40 anos. Ou seja, o profissional que tem mais de 40 anos não tem a menor chance de avançar só por causa da sua idade.

É importante lembrar que, de acordo com a Lei 9.029, de 1995, é crime de discriminação eliminar um profissional de um processo seletivo por causa da sua idade (seja qual for). Mesmo assim, não é difícil encontrar até mesmo vagas com limite de idade sendo divulgadas sem o menor constrangimento nos setores público e privado.

O mesmo vale para os programas de trainee. Na imensa maioria das vezes, as empresas estabelecem limite de idade ou sequer contratam profissionais 40+, mesmo que eles tenham concluído recentemente uma nova graduação para começar uma nova carreira. Até mesmo as campanhas de marketing de programas de trainee costumam mostrar apenas jovens nas suas imagens de divulgação, desestimulando o ingresso de profissionais maduros e recém-formados que poderiam se interessar pela participação nesses programas.

Diante dessa cultura do “jovem trainee”, como um sênior vai encontrar entusiasmo para tentar entrar em uma empresa que “cultua” apenas os jovens? É complicado.

3 – Sua empresa não contrata prestadores de serviço 40+

Em um mercado no qual a modalidade de trabalho CLT tem se tornado cada vez mais rara, crescem as contratações de prestadores de serviços, seja como “terceirizados fixos” ou mesmo para trabalhos pontuais, como consultorias e treinamentos. Nesse sentido, descartar profissionais para qualquer tipo de serviço porque eles têm mais de 40 anos é preconceito. Simples assim. E acredite, também acontece no mercado. Falo por experiência própria.

Em 2020, participei de uma concorrência para realizar um treinamento de marketing digital em uma “startup” e só não fui contratado por causa da minha “idade avançada” – na época, tinha 43 anos. Por meio de amigos comuns com colaboradores dessa empresa, descobri semanas depois que não fui escolhido para o trabalho porque a CEO da “startup” – uma jovem de 29 anos – me achou muito “tiozão” para treinar o time dela, formado basicamente por profissionais das gerações Y e Z.

4 – O preconceito de idade não faz parte das políticas de Diversidade & Inclusão da sua empresa

Nos dias de hoje, é fundamental para qualquer empresa – principalmente aquelas que já têm mais de 50 colaboradores – contar com um programa de Diversidade & Inclusão para assim estimular a contratação, a inclusão e o desenvolvimento de mulheres, negros e LGBTQIA+, entre outros grupos.

No entanto, se a sua empresa esquece da Inclusão Etária, pode estar cometendo um grave erro. Afinal, o preconceito de idade é um tipo de exclusão que pode afetar todos os outros grupos citados acima e até mesmo o “homem branco e heterossexual” (que supostamente está livre de qualquer preconceito). Ou seja, o etarismo é um preconceito que pode atingir todos os colaboradores de uma empresa.

É exatamente essa ausência do tema Inclusão Etária nas políticas de Diversidade & Inclusão de uma empresa que faz com que profissionais 40+ não sejam contratados, desenvolvidos ou mesmo promovidos. Pelo contrário, geralmente são vistos apenas como uma espécie de “ferro-velho” que precisa ser removido da organização assim que possível.

Algumas empresas chegam ao absurdo de “aposentar” presidentes e CEOs quando eles completam 60 anos. Por que isso?

Em resumo: se a sua empresa não tem a Inclusão Etária no radar, isso é um sinal muito preocupante de que ela, sim, pratica o preconceito de idade. Até mesmo sem perceber.

5 – A sua estratégia de negócios ignora o público sênior

Esse último sinal precisa ser observado principalmente por você aí que é CEO ou ocupa uma posição-chave dentro da empresa: se a sua estratégia de negócio está focada apenas em lançar produtos ou serviços para jovens das gerações Y e Z, cuidado! Você pode estar dando um “tiro no pé” que vai inviabilizar a caminhada da sua empresa nos próximos anos.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua (PNADC), divulgada alguns dias atrás pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de brasileiros com mais de 40 anos já é de cerca de 100 milhões de brasileiros, o que representa quase 50% da população. Em contrapartida, os jovens com idades entre 18 e 39 anos somam pouco mais de 60 milhões de brasileiros.

É válido destacar ainda que diferentes estudos apontam que o grupo de consumidores com mais de 40 anos já movimenta impressionantes R$ 2 trilhões na economia brasileira.

Apesar dos números que sinalizam claramente que as pessoas maduras já são a maioria da população brasileira, “a conta não fecha”: a maioria das empresas continua priorizando o público jovem, não só na sua política de contratação e retenção de talentos, conforme mencionei antes, mas também no lançamento de produtos e serviços. A gigante do varejo Ponto Frio, só para citar um exemplo, em 2021 mudou seu nome para “Ponto” e passou a direcionar sua estratégia de marketing e vendas para os jovens, apesar de estar no mercado há 70 anos. Vai entender…

Alô empresários, CEOs, empreendedores e gestores de RH, marketing e vendas: prestem atenção nos sinais de preconceito de idade listados acima e acordem para o “tsunami prateado” que já está aparecendo ali no horizonte. Antes que seja tarde demais para suas empresas!

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